O medo é uma emoção que permite aos animais evitar situações ou actividades que possam ser perigosas. Deveria apenas estar presente em circunstâncias verdadeiramente ameaçadoras para a segurança do cão. No entanto, encontramos animais com uma resposta de medo desproporcionada face a determinados estímulos. Neste caso estamos perante uma fobia.
Nos cães, um dos medos mais frequentes é a ruídos fortes como trovoadas ou fogos de artifício. As reacções podem variar de uma ligeira agitação e procurar os tutores, a reacções de pânico com tentativas de fuga, tremores, ladrar intensamente, defecar, urinar, arfar e babar-se. Este medo exagerado é um problema de bem-estar para os animais.
Os medos e fobias podem ter origem diferentes. Podem ser hereditárias, ou seja, de origem genética porque o medo é uma característica que tem cerca de 40% de hipóteses de passar de pais para filhos. Aparecem geralmente nos primeiros anos de vida e pioram de ano para ano, porque uma das características das fobias é não diminuírem com a habituação. Mesmo que as trovoadas ou os foguetes se apresentem repetidamente e não tenham nenhuma consequência negativa para o animal, o medo aumenta em vez de desaparecer.
Mesmo os cachorros que não tenham pais com estes problemas devem ter contacto com ruídos fortes durante o seu período de socialização, de forma positiva para evitar terem medo deles em adultos. Se esta socialização não for feita de forma adequada é muito provável que em adultos reajam mal da primeira vez que os ouvirem. Por exemplo, se o fogo de artifício estiver muito próximo pode provocar uma experiência traumática e fazer com que a partir daí o cão manifeste medo a todos os ruídos semelhantes.
No caso dos fogos de artifício, os animais não podem prever qual vai ser a sua duração ou intensidade. Esta imprevisibilidade pode fazer com que a resposta de medo seja muito intensa, mesmo perante situações em que os foguetes estejam longe ou sejam de curta duração, pois o animal tem medo que o estímulo possa ficar mais intenso a qualquer momento.
As trovoadas têm um estímulo sonoro (trovão) que causa medo, mas que vem acompanhado de outros estímulos como a chuva, o vento, os relâmpagos e mudanças de pressão atmosférica. Os animais acabam por associar todos estes estímulos ao som que lhes causa medo, podendo mostrar ansiedade perante apenas um dos estímulos, como por exemplo, num dia de chuva.
Além disso, em qualquer destas situações, o facto do animal procurar um esconderijo seguro não faz com que o estímulo desapareça e por isso ele não consegue resolver o seu problema, faça o que fizer. Tudo isto faz com que seja difícil conseguir que um cão que já tem fobia a ruídos fique completamente curado. No entanto, podemos fazer tratamentos que permitam minimizar as reações excessivas de medo, dando bem-estar ao animal.
O ideal é habituar os cachorros, desde bebés, aos ruídos e restantes estímulos associados para que não desenvolvam medo. Para isso devem sempre apresentar-se os ruídos começando por intensidades mais baixas e associar todos estes estímulos (ruídos, chuva, relâmpagos, vento) a situações positivas como brincadeiras e passeios na rua.
O que fazer se temos um cão com medo a trovoadas ou fogos de artifício?
Em dias que preveja que possa haver trovoadas ou fogos de artifício mantenha o seu cão em casa ou num lugar fechado e abrigado.
Feche as janelas, persianas e coloque música suave ou ligue a televisão para se ouvir menos o ruído que vem do exterior.
Se o seu cão se esconde num lugar específico da casa quando há foguetes ou trovoadas (debaixo da cama, num quarto interior, etc) deixe lá a cama dele e brinquedos para que se possa sentir mais seguro. Caso ele não tenha nenhum local, pode criá-lo previamente. Para isso deve colocar a cama e brinquedos dele dentro de uma caixa transportadora ou num local mais escondido em casa e começar a passar lá alguns minutos por dia com o cão incentivando-o a ficar relaxado a roer um brinquedo, por exemplo. Isto deve começar a ser feito semanas antes dos dias em que prevemos que possa haver fogos de artifício ou trovoadas.
As feromonas como o Adaptyl (laboratório Ceva) podem dar uma ajuda nestes casos. O Adaptyl é uma feromona sintética idêntica à que a mãe liberta durante a amamentação dos cachorros que ajuda a mantê-los calmos e seguros. O difusor de Adaptyl pode ser colocado no local da casa onde queremos que o cão se esconda. A coleira Adaptyl pode ser usada caso se preveja que haja uma festa com vários dias ou seja época de trovoadas, principalmente se for um cão que passa algum tempo fora de casa. O Adaptyl deve ser colocado uns dias antes do evento que causa medo ao cão e mantido durante um mês.
Em casos em que haja reações de medo exageradas e o cão se possa ferir ou fugir, poderá ser indicado falar com o seu medico veterinário para medicá-lo nos dias em que sabemos que vão haver trovoadas ou foguetes. Não devem ser usadas fenotiazinas (Calmivet) pois aumenta a ansiedade do animal, já que ele fica consciente dos estímulos que lhe causam medo, mas tem a mobilidade reduzida devido ao efeito da medicação.
No caso de festas em que sabemos que vão haver foguetes, podemos optar por levar o cão para outra localidade onde não haja este tipo de ruído durante, seja ficando em casa de familiares ou num hotel canino (se ele estiver habituado a isso).
Se o seu cão tem fobia a estes ou outros ruídos, entre em contacto para podermos ajudá-lo com o tratamento que melhor se adapta ao seu caso.
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